Houve uma época em que fui apaixonado por Engenharia, e essa crença me levou à prestar mais atenção nas aulas de matemática, a crença que eu era “de exatas”. Depois, comecei a me envolver muito nas aulas de Filosofia, amava os autores e a literatura, então como eu poderia gostar de matemática? Eu sou é “de humanas”!
Este trecho de minha vida é uma evidência anedótica de que a clássica separação entre áreas do conhecimento é tola: Se houvesse um condicionante biológico, eu não variaria tanto de curso pretendido desta maneira na minha juventude. E nem faz sentido que esta condicionante exista, até porque, você não consegue imaginar um homo sapiens sapiens caçador-coletor se questionando se é melhor em engenharia ou filosofia. Veja: A prática da engenharia e da filosofia provavelmente já exista em tempos primais de forma rudimentar, mas eu duvido que nós conseguiríamos separar uma da outra com tamanha facilidade, como fizemos agora.
A formação de um currículo separado em disciplinas foi impulsionada pela política de fragmentação do processo de produção industrial ocorrida no final do século XIX. Naquela época, era necessário que educação tivesse um viés técnico, ou seja, que as pessoas aprendessem profissões que exigissem um mínimo de conhecimento, como datilografar ou operar máquinas no banco. Surge, portanto, uma diferenciação entre ciência e educação a partir daí. A escola iluminista surge desta maneira, voltando a educação para a produção de trabalhadores que se adequem às profissões. Na visão de Adam Smith, uma nação rica é uma nação capaz de gerar trabalho, e isso implica em alguns princípios: Desigualdade social (pois é necessário que tenha aquele que emprega e aquele que é empregado) e o papel do Estado, que é proteger os riscos dos pobres (evitando que uma nova Revolução Francesa aconteça, o que levaria à perda na capacidade de gerar trabalho); as escolas surgem baseadas neste conceito: Não se estudava para saber, se estudava para ter um ofício, e assim gerar trabalho, mas pouco conhecimento.
A partir disso, temos de enxergar que a crença de que somos de exatas quando lidamos com estatísticas e fórmulas foi construída em nosso imaginário coletivo. Porém, perceba: Nada são os dados sem seu objeto de estudo prático. A matemática, portanto, é uma ferramenta que utilizamos para alcançar um fim, que geralmente é uma maior compreensão das humanidades do nosso dinamismo social. Você, se trabalha com dados, é de humanas (se é que isso existe)! Só usa a matemática como UMA de suas ferramentas para melhor compreender sociedades.
Agora, vá vender miçangas.