Transcrição – 05 – Mais Armas Aumenta a Segurança?

Esta transcrição foi feita por Karla Braga e é uma reprodução fiel ao que foi dito no episódio.

Esta pauta foi feita por Igor Alcantara, Patrícia Balthazar e Nicolli Gautério . A vitrine do episódio foi feita por Diego Madeira. O episódio foi apresentado por Patrícia Balthazar e participaram Igor Alcantara e Diego Madeira.

O episódio começa com a vinheta Intervalo de Confiança. A trilha foi composta por Rafael Chino. A voz da vinheta é de Letícia Daquer. A voz com os créditos, ao final do episódio, é de Mariana Lima.

Bloco de Apresentações

Patrícia diz: Estamos começando mais um Intervalo de Confiança, o seu podcast de ciência e jornalismo de dados, uma Distribuição Uniforme de pensamento crítico.

Este é nosso episódio número 5 e eu vou começar lembrando de alguns acontecimentos trágicos. 

Na cidade de Dallas, no estado americano do Texas, um homem de 39 anos não aceitou ser rejeitado por uma mulher a quem ele estava assediando em um bar, puxou uma pistola semiautomática e atirou contra as pessoas, matando seis. Um mês depois, na Califórnia, um homem de 41 anos disparou contra diversas pessoas em um McDonald’s. Ele matou 22 pessoas e feriu 19. Dois anos antes, um homem na Flórida de 51 anos sacou uma pistola em uma loja e matou 8 pessoas. Dois anos depois do primeiro caso, um funcionário dos correios matou 15 pessoas em seu local de trabalho e depois atirou contra a própria cabeça. Este caso aconteceu no estado de Oklahoma. Esses 4 casos podem parecer com diversos que ganharam a mídia recentemente, mas, na verdade, eles aconteceram entre 1982 e 1986.

Se formos pegar os casos mais recentes, só nos 8 primeiros meses de 2019 aconteceram 8 casos semelhantes, com um total de 66 mortos e mais de 90 feridos. Se a gente expandir para os casos de atiradores com ao menos 4 vítimas, os números chegam perto de 200 eventos. Sempre que fatos assim acontecem, ainda mais com tantos em sequência, o debate sobre violência e porte de armas aumenta. Será que mais armas nos tornam mais seguros ou, ao contrário? Quais as causas desses massacres? O que a ciência pode nos dizer sobre isso? É disso então que vamos falar hoje. Já avisamos que este é um tema pesado, mas é um assunto de importância, que precisa ser debatido. E para me ajudar neste tema hoje, estão comigo…

O Igor

Igor diz: Olá, ouvintes. Estamos aqui mais uma vez. Um tema, como a Patrícia falou, pesado, mas vamos lá que, enfim, a gente não foge do debate.

Patrícia diz: E um estreante, o Diego Madeira, o artista responsável pelas vitrines maravilhosas dos nossos episódios.

Diego diz: obrigado pelo “maravilhosas”. É um prazer estar participando deste podcast. Vamos começar o debate, que esse realmente é difícil.

Patrícia diz: Vamos lá. Seja bem-vindo, Diego. E o episódio começa logo, mas antes vamos para um super rápido quadro de recados e anúncios.

Patrícia diz: Estamos começando mais um Intervalo de Confiança, o seu podcast de ciência e jornalismo de dados, uma Distribuição Uniforme de pensamento crítico.

Este é nosso episódio número 5 e eu vou começar lembrando alguns acontecimentos trágicos. 

Na cidade de Dallas, no estado americano do Texas, um homem de 39 anos não aceitou ser rejeitado por uma mulher a quem ele estava assediando em um bar, puxou uma pistola semi-automática e atirou contra as pessoas, matando seis e ferindo outra. Um mês depois, na Califórnia, um homem de 41 anos disparou contra diversas pessoas em um McDonald’s. Ele matou 22 pessoas e feriu 19. Dois anos antes, um homem na Flórida de 51 anos sacou uma pistola em uma loja e matou 8 pessoas. Dois anos depois do primeiro caso, um funcionário dos correios matou 15 pessoas em seu local de trabalho e depois atirou contra a própria cabeça. Este caso aconteceu no estado de Oklahoma. Esses 4 casos podem parecer com diversos que ganharam a mídia recentemente, mas na verdade eles aconteceram entre 1982 e 1986.

Se formos pegar casos mais recentes, só nos 8 primeiros meses de 2019 aconteceram 8 casos semelhantes, com um total de 66 mortos e mais de 100 feridos. Se a gente expandir para casos de atiradores com ao menos 4 vítimas, os números chegam perto de 200 eventos. Sempre que fatos assim acontecem, ainda mais com tantos em sequência, o debate sobre violência e porte de armas aumenta. Será que mais armas nos torna mais seguros ou ou ao contrário, mais inseguros? Quais as causas desses massacres? O que a ciência pode nos dizer sobre isso? É disso então que vamos falar hoje. Já avisamos que este é um tema pesado, mas um assunto desta importância precisa ser debatido. E para me ajudar neste tema, estão aqui comigo hoje…

O Igor Alcantara.

Igor se apresenta.

Patrícia diz: E um estreante, o Diego Madeira, o artista responsável pelas vitrines dos nossos episódios.

Diego se apresenta.

O episódio começa logo, mas antes vamos para um super rápido quadro de recados e anúncios.

Recados

Igor diz:

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Bom, vamos então para o episódio de hoje.

Introducão

Patrícia diz: Existem quase 400 milhões de armas em circulação nos Estados Unidos. Isso é mais do que a própria população do país. Existem cerca de 1,2 armas para cada pessoa. O número de jovens neste país mortos por arma de fogo sobe a cada ano. Em 2015 foram cerca de 3000 vítimas, esse número passou para 4000 em 2016 e quase 5000 em 2017 e essa estatística continua a subir. Há poucos dias atrás, em 2 de setembro de 2019, um adolescente de 14 anos no estado de Alabama assassinou todos os 5 membros de sua família: seu pai, madrasta e seus três irmãos, de 5 e 6 anos e um bebê. Esse caso lembra o que ocorreu no Brasil em 2013 com a família Pesseghini, onde um adolescente de 13 anos supostamente matou os pais, ambos policiais.

Igor diz: Os dois lados da discussão nesse assunto, tanto aqueles que defendem leis mais flexíveis quanto aqueles que são a favor de um controle mais rígido eles usam diferentes dados para tentar reforçar a sua posição. Um argumento muito usado é de que países com grande acesso às armas como, por exemplo, Suíça e Dinamarca têm índices baixíssimos de violência e de crime. Se você seguir esse raciocínio, ele diz que um cidadão com arma ele está mais seguro. E eles falam também o seguinte: se o bandido, por exemplo, ele vai assaltar uma casa, mas aí ele não sabe se a vítima ali dentro pode estar armada, tem uma chance dela ter uma arma, ele vai pensar duas vezes antes de cometer um crime. Eu acho esse pensamento engraçado, porque as pessoas acham que o bandido fala assim “Não! Então eu acho que eu vou fazer um concurso ou sei lá” A gente sabe que não é bem assim que funciona. Um mundo meio fantasioso. Mas, do outro lado do debate, um dos dados levantados é de que, por exemplo, aqui nos Estados Unidos, onde eu moro, os estados que têm os menores índices de criminalidade são aqueles que têm um maior controle sob a compra e venda de armas de fogo. O campeão neste quesito é exatamente aqui onde eu moro, Massachusetts, que tem os menores índices de homicídios em todo o país. E tem também as leis mais rígidas de controle de venda, comercialização e posse de arma.  Qual dessas informações no final faz sentido? Não seria que ambos os casos ou um dos casos, naquele exemplo que a gente já citou no nosso Episódio número 3, de que correlação não significa causa, enfim uma correlação espúria. Enfim, isso é uma das coisas que a gente vai debater hoje.

Diego diz: E antes que a gente comece a detalhar um pouquinho mais este assunto, é legal deixar bem claro que trouxemos os dados globais de violência e uso de armas e também dados específicos do Brasil, mas a maior parte dos dados que usamos para este episódio são dos Estados Unidos por uma questão razoavelmente simples: eles têm essa questão de armas há mais tempo e é de lá que vêm a maioria dos estudos nesse assunto. Então muito cuidado para você não pegar algumas informações de uma realidade, extrapolar para o Brasil ou para qualquer outra, tirando conclusões que não necessariamente se aplicam a nós. A ideia, como a gente vem falando em quase todo episódio, é que uma andorinha só não faz verão. Ou melhor, uma informação só, não faz conclusão.

A gente decidiu então dividir o assunto em diferentes estatísticas para ficar um pouquinho mais organizado e fácil de entender.

Violência e Porte de Armas

Diego diz: Em primeiro lugar, vamos analisar se existe alguma associação entre países mais ou menos violentos com países com maior ou menor acesso a armas. 

Quem então são os países com maior acesso a armas? Existem diferentes dados para diferentes fontes, mas alguns números são bem próximos, então em resumo, os países com maior número de armas por habitante são, em ordem decrescente:

Estados Unidos
Sérvia
Iêmen
Chipre
Arábia Saudita
Iraque
Uruguai
Noruega
França
Canadá

Deixando claro que em nenhuma das listas o Brasil aparece sequer na posição 50, até a 50; na verdade não aparece nem no TOP100.

A maioria dos países possui leis que permitem algum tipo de acesso a armas pelos seus cidadãos, mas apenas três deles tem isso na sua constituição: Estados Unidos, México e Guatemala.

Patrícia diz: Me surpreendeu o Uruguai estar aí. Porque se a gente for pensar, o Uruguai daqui da América do Sul é um dos países mais progressistas em termos de lei.

Igor diz: Sim, sim. Mas no caso deles, é por outro motivo. Muito relacionado a caça. É relacionado a outro motivo. Mas tem bastante arma.

Patrícia diz: Não é motivo de armar o cidadão de bem para se defender, né? Agora vamos analisar quais são os países que lideraram o ranking de violência. Será que países com mais acesso a armas são os mais violentos? Claro que aqui a gente tem que levar em conta que alguns países enfrentam guerras, sejam internas ou contra inimigos externos, mas, mesmo assim, isso nos dá algum parâmetro de comparação. Os dados que estamos apresentando são baseados no Índice GPI (Global Peace Index), produzido pelo Instituto para Economia e Paz. Quanto menor o índice, mais seguro é o país. Vamos ver então quem está no final da tabela. De acordo com este índice, os países mais perigosos do mundo são:

Afeganistão
Síria
Sudão do Sul
Iêmen
Iraque
Somália
República Centro Africana
Líbia
Congo
Rússia
Paquistão
Turquia
Sudão

Tirando os países que passaram por guerra recentemente, a gente tem uma pequena minoria de países nessa lista que também estão na lista daqueles com mais armas.

Vamos então ver o outro extremo da lista, os países mais seguros. Eles são, em ordem:

Islândia
Nova Zelândia
Portugal
Áustria
Dinamarca
Canadá
Singapura
Slovênia
Japão

Igor diz: Pois é, a gente passou aqui uma lista e o ouvinte pode ter ficado confuso. A gente passou algumas listas aqui diferentes de quais são aqueles países que têm mais acesso a armas e é claro que isso são dados per capita. E os Estados Unidos lideram disparado a lista, mais do que o dobro do país que está em segundo lugar. E passamos a lista ali dos países que são considerados mais seguros e países que são considerados aqueles mais violentos. Só que você analisar essas listas de países, que é uma coisa que é muito feita, pelos dois lados do debate (pelas pessoas que defendem um maior controle de armas e as pessoas que defendem uma maior liberação) é um pouco confuso. Vamos entender o porquê. Por exemplo, se você pegar os países com mais armas. Alguns dos países com mais armas estão entre os mais violentos, como, por exemplo, o Iêmen e o Iraque. Claro que a gente pode argumentar que esses países estiveram em guerra durante muito tempo, mas mesmo após o período de guerra, eles continuam como países extremamente violentos. Mas também você consegue pegar ali países que estão na lista dos mais seguros, como por exemplo, Dinamarca e o Canadá. Então, baseado nisso, você pode usar essa lista tanto para um lado quanto para o outro. Você pode ter um viés, por exemplo, de maior liberação do uso de armas e usar essa lista considerando alguns países, ou o viés contrário e utilizar outros países. Então essa lista é meio isentona, ela não ajuda muito a gente nesse ponto. Sendo que se a gente pegar o país, como eu falei, que de longe tem mais armas, que tem mais armas do que população, como a Patrícia colocou, os Estados Unidos, eles estão na posição 36 de países mais violentos. Está na lista de países mais seguros, mas também não está ali no TOP10. Não dá pra gente tirar muita conclusão.

Agora vamos focar só em países… Quando a gente toca em “violência” isso envolve diversas estatísticas. Vamos focar em uma que está um pouco mais diretamente relacionada à questão da arma de fogo. Vamos pegar os países com maior número de assassinatos por habitante (o número de assassinatos per capita). Se a gente pegar essa lista, aí a gente já vê que não dá para tirar conclusão nenhuma. Vamos ver quais são então os países que têm o maior número de assassinatos per capita.  Os países são:

Burundi
Comoros
Djibouti
Eritréia
Etiópia
Quênia
Madagascar
Malawi
Moçambique

Nenhum deles está em nenhuma lista, nem dos países com mais armas, nem dos países com menos armas. Só que se o ouvinte prestou atenção, eles têm uma coisa em comum: todos eles estão na África! Na verdade, se você pegar a lista dos países com mais assassinatos do mundo, as 58 primeiras, os primeiros 58 lugares são de paísesna África. Aí você tem o 59 e o 60 países fora da África, que são 2 países na Ásia, aí você continua com uma grande lista de países na África. Então, basicamente todos os países da África, sem nenhuma exceção, eles estão no topo da lista. Será que isso é coincidência? O Brasil, só para a gente ter um parâmetro de comparação, a gente sabe que o Brasil ele é muito violento, mas ele está apenas na posição 97 do total de 230 nações listadas. Então tem ali 96 países com uma quantidade de assassinatos maior do que o Brasil.

Diego diz: Uma complexidade nessa questão é que não existem dois países com as mesmas leis de acesso a armas e quando você encontra países com leis parecidas, eles são tão diferentes em outros aspectos (seja cultural, econômico) que fica ainda mais complicado analisar a relação isolada entre arma e violência.

A conclusão que a gente pode tirar disso é que a mudança nas leis não é o único fator que pode aumentar ou reduzir a taxa de crime. Como a gente falou aqui, existem países com mais armas que são violentos e aqueles que são seguros. Existem países com muitas restrições às armas que são seguros e alguns que são bem perigosos. Claro que o que a gente não está falando aqui que liberar ou restringir arma não tem consequências, tem, mas isso a gente vai abordar depois. Vai ficar pra depois. O momento agora é de pensar na associação dos números gerais de violência associados com a facilidade de se adquirir uma arma. Então, como analisar apenas maior presença de armas com maior ou menor violência não parece nos levar a lugar nenhum. A gente precisa investigar mais profundamente essa questão para gente entender um pouquinho melhor essa situação.

Violência e Riqueza

Patrícia diz: Lembra que no nosso Episódio 02 nós falamos sobre desigualdade? Então, lá a gente explicou sobre um tal índice de GINI, que mostra quão desigual é uma população. Só que nesta análise aqui a gente vai trazer outro dado, não dos países mais desiguais, mas dos países mais ricos e mais pobres, baseado na média de renda da população.

Nesta lista, os países mais pobres são:

Burundi
Malawi
Níger
Madagascar
Moçambique
Sudão do Sul
República Centro Africana
Congo
Afeganistão
Serra Leoa

Percebeu que vários dos países desta lista estão também na lista dos países mais violentos e com mais homicídios? E isso é independente do grau do posse de armas da população. Ou seja, para a surpresa de zero pessoas, países mais seguros não são aqueles com mais ou menos armas, mas aqueles com maior riqueza. Só que não basta apenas o país ser rico, já que os Estados Unidos está em segundo lugar nesta lista de renda per capita, mas está, mesmo assim, longe do Top 20 de países mais seguros. O que acontece então? Vamos então analisar outras questões.

Série Temporal

Igor diz: Pois é.Um problema dessa análise é que ela mostra o estado atual desses países. Então ela mostra atualmente o grau de violência de cada local e a quantidade de armas e a facilidade de se obter essas armas. E aí fica um pouco complicado porque, como a gente viu inclusive no episódio 3, que a gente já citou aqui, que é complicado você estabelecer uma relação de causa e efeito quando você não tem a questão do tempo, quando você não sabe o que que aconteceu primeiro. Então, no caso, vamos pegar um país, tanto faz se ele seja mais violento ou mais seguro. Vamos pegar um país que tem uma lei um pouco mais liberal em relação a armas. Será que foi a liberação de armas que mudou os índices de violência? Ou o contrário? O que que aconteceu primeiro? Será que era um país violento, liberou as armas e ele ficou seguro? Será que era um país seguro, liberou as armas e ele ficou violento? Ou será que, enfim, era o contrário? Será, por exemplo, que era um país já seguro e aí aconteceu a liberação das armas? Enfim… então a gente tem que saber o que aconteceu primeiro. Então é muito complicado, é muito problemático, é muito errado do ponto de vista da estatística e das ciências em geral você comparar e falar “esse país tem mais armas e ele é mais seguro que o Brasil” ou “esse país tem mais armas e ele é mais inseguro que o Brasil”. Porque você não sabe se foi a liberação das armas ou mesmo a proibição das armas que causou aquilo. Você tem que analisar as coisas no decorrer do tempo.  Vamos pegar um exemplo aqui: o Canadá. O Canadá tem uma política de armas semelhante à dos Estados Unidos e ele é um dos países mais seguros do mundo. Será que ele era violento antes e a liberação de arma, aí você liberou as armas e o crime reduziu para ele se tornar um país seguro? Ou foi o contrário: será que ele já tinha índices de crimes sempre baixos e aí liberou as armas e a liberação de armas não alterou esse número. Aí eu vou tomar emprestado aqui uma expressão da Nicole, vou usar aqui o meu momento Pernalonga de… qual que é a expressão que ela usa?

Diego diz: Pernalonga de Batom?

Igor diz: Isso. Então vou usar aqui o meu momento Pernalonga de Batom, pra gente explicar um pouco um conceito técnico, que a gente sempre tenta trazer, não é?

Vamos falar de um conceito muito importante em estatística, pra quem trabalha com ciência de dados, trabalha com machine learning, é muito importante, que é uma coisa que a gente chama de série temporal. Ou o termo em inglês, se você for pesquisar na bibliografia em inglês, se chama time series. Resumindo: uma série temporal é uma sequência de valores que uma variável qualquer que você está analisando (pode ser criminalidade, pode ser número de armas) assume no decorrer de um determinado tempo, sendo que um valor está diretamente influenciado pelo valor anterior. Então, ou seja, o valor que havia anteriormente influencia o meu valor posterior. Se ficou um pouco confuso, não se preocupe, como a gente sempre faz, a gente pega aqui o nosso ouvinte na mão e a gente explica um pouco mais detalhado pra ficar um pouco mais claro. Então imagina que eu estou tentando, por exemplo, calcular a chance da cotação do dólar ultrapassar 5 reais. Se você pegar isso, é claro que a probabilidade é maior que o dólar ultrapasse 5 reais se no dia anterior ele já estiver acima de 4 reais e é menor se eles estiver abaixo de 4 reais. Ou seja, a cotação ela é também influenciada pela cotação anterior, até porque existe aquela questão de que as pessoas são movidas a comprar ou vender dólar dependendo do preço da moeda e isso vai acabar influenciando o preço final.

Um outro exemplo, de um projeto que eu trabalhei alguns anos atrás, quando eu estava trabalhando ainda na área médica, era da gente prever pressão arterial de paciente. E nisso você tem que usar uma série temporal porque se a pressão arterial passar de um determinado valor, passar por exemplo de 180, pressão sistólica e tal, ele tem uma chance maior dependendo se a anterior, por exemplo, é 170, 160, enfim, porque a pressão ela não sobe, não é uma fórmula 1, ela não vai de 0 a 100 em 2 segundos. Ela é uma crescente. Enfim… aqui resumidamente é isso. É claro que esse assunto é por demais complexo, mas a gente não vai entrar muito na parte técnica dos componentes determinísticos ou estocásticos, até porque em áudio é mais difícil entender isso do que se a gente tivesse um vídeo para mostrar alguns gráficos. Mas o que o ouvinte precisa entender é que existem equações que nos ajudam a calcular isso e essas equações levam em conta diversas coisas como a tendência, que é um indicativo (se a tendência é de alta ou de baixa) e também existem coisas como sazonalidade, pois tem coisas que tem uma variação natural (vendas, por exemplo, há uma sazonalidade que tem vendas maiores em determinadas épocas do ano, como no Natal, ou aqui, no Dia de Ação de Graças e depois na Black Friday). Enfim, tem outras questões também como aleatoriedade de componentes. Enfim, tem várias questões, mas tudo isso a gente consegue colocar numa equação e calcular.

Agora fecha os parênteses do Pernalonga de Batom, mas o que é que explica, o que isso tem a ver com o tema de hoje? Bom, para entender de verdade, de fato como é que mudanças em política de posse de armas podem influenciar na segurança, a gente precisa levar em conta que tanto os números da presença de armas quanto os dados da violência obedecem padrões do que a gente chama de uma série temporal.  Então, a gente precisa analisar isso no decorrer do tempo (não adianta você comparar hoje países mais violentos ou mais seguros com o quanto eles têm de armas ou não). Isso é absolutamente inútil. Isso não tem valor nenhum. O que você precisa analisar é “como foi a evolução dos índices de violência no decorrer do tempo e se houve uma alteração drástica nesses índices após uma mudança drástica nas políticas de acesso às armas. Aí, claro que você não chega nos dados daquela relação de causa e efeito ainda, mas você encontra aí fortes indicativos, fortes evidências que merecem ser melhor investigadas. Então, se você pegar, por exemplo, o caso dos Estados Unidos, você pode analisar como diferentes estados se comportam quando existem mudanças nas leis de acesso às armas.

Política de Restrição de Armas

Diego diz: Analisando os dados dos Estados Unidos, o Igor pode falar isso com mais detalhes, mas o legal dos Estados Unidos é que os estados eles têm uma autonomia um pouco maior para criar as suas regras específicas, as suas leis específicas e, assim, a gente pode ver como um só país lida com a questão em diferentes lugares. Uma coisa que eu nunca entendi exatamente é quando a pessoa fala “Ah, mas nos Estados Unidos é assim, mas no Brasil é assim”. De qual Estados Unidos a gente está falando? Dos Estados Unidos do Texas, dos Estados Unidos da California, de Nova Iorque? Dos Estados Unidos do Havaí? São países dentro do país. O mesmo se aplica aqui pro Brasil. A gente está falando do Sul, a gente está falando do Nordeste? De São Paulo? Do Rio? Lá esses fizeram uma série de coisas que, analisando os estados americanos que mudaram suas leis de acesso a armas, podemos ver quais leis tiveram um maior efeito na redução de crimes cometidos com armas de fogo. E não foi só a proibição pura que funcionou, mas três políticas relativamente simples: por exemplo, restrição do tipo de armas que um cidadão pode comprar (ele não podia mais comprar um rifle de assalto, que é aquela arma um pouco maior, com o cano grande). A segunda medida é aumentar o tempo de espera entre a compra de uma arma e outra (ele não pode ficar fazendo upgrade nela o tempo todo). A última é uma verificação do comprador, incluindo aí antecedentes criminais, testes de sanidade mental e, o mais importante de todos, histórico de violência doméstica. E eu não sei se eles vêem o score também da pessoa, se ela tem condições de comprar e manter a arma, financeiramente falando.

Igor diz: Não, eles não verificam credit score.

Diego diz: Banir quem já cometeu violência doméstica é um dos fatores que, se acredita, mais estão relacionados à redução da probabilidade de uma arma de fogo ser usada em um crime violento. 

Já uma pessoa tenha a posse da arma, outra medida efetiva é restringir o uso dessa arma, proibindo, por exemplo, que a pessoa saia na rua armado. Mesmo o transporte da arma necessita de uma autorização especial da polícia, como acontece no Brasil. Por exemplo, pra pessoas que trabalham com segurança, elas moram em lugar de risco, ela precisa comprovar isso pra poder andar com arma. Além disso, outras medidas se mostram bem eficazes: a obrigatoriedade de uma chamada “trava infantil”, que reduz o número de acidentes com armas de fogo, e a educação de que as armas sejam guardadas em local de difícil acesso para qualquer um que não esteja apto a operar. Para o nosso ouvinte ter uma ideia, nos Estados Unidos estima-se que cerca de quase 2 milhões de crianças vivam em casas com armas sem proteção e carregadas. Não à toa que o país lidera os números de acidentes deste tipo. A chance de uma pessoa morrer por arma de fogo é três vezes maior se uma pessoa mora em uma casa com a presença de armas. E eu lembro que quando eu era mais novo lá no Sul, o meu vô tinha uma arma e eu já atirei pra cima umas duas, três vezes, e eu sabia onde a arma ficava. Então, eu fiquei bem perto de entrar pra uma estatística brasileira disso aqui.

Igor diz: Meu padrasto e minha mãe eram policiais federais, meu padrasto trabalhou inclusive um tempo na Interpol e foi da tropa de atiradores de elite da Polícia Federal. Depois ele acabou ficando um tempo no sindicato, depois se aposentou. Mas eu lembro que na minha casa sempre tinha muitas armas. Muitas que eu digo assim, 6 ou 7 armas de tipos diferentes, com mira a laser. A gente aprendeu a atirar desde pequeno, mas o acesso à arma era extremamente dificultado, nunca era guardada a munição junto, tinha um cofre, tinha todo um controle, até pelo fato de serem policiais, eles sabiam, até porque, enfim, éramos 13 em casa, filhos, então eles sabiam do risco que uma coisa dessas podia ocasionar.

Patrícia diz: Além disso, a gente pode observar que, independente da região, do IDH ou da Renda Média, nos Estados Unidos os estados com menor índice de violência são normalmente aqueles com maior controle sobre quem pode comprar uma arma.

Alguns estudos interessantes que levam em consideração as séries temporais que a gente comentou antes perceberam duas coisas: países com baixos índices de violência não enfrentam alteração desses números se a política de acesso a armas é alterada. Ou seja, Suíça, Finlândia ou Alemanha liberar ou restringir armas não muda muito os níveis de violência. Só que o inverso não é verdade. Países violentos tendem a ficar ainda mais violentos com a presença de mais armas, aumentando bastante casos de violência doméstica que levam a morte de familiares. Nesses mesmos países, a restrição de armas causa uma leve redução de crimes, mas essa mudança é em uma escala menor. E alguém aqui conhece um país violento e desigual que no passado recente mudou sua política de armas?

Igor diz: deixa eu ver, deixa eu chutar, Humm… o Brasil?

Patrícia diz: Olha! Certa resposta.Exatamente. Vamos então falar agora de como isso afetou as nossas preocupantes estatísticas de segurança pública.

Estatuto do Desarmamento

Diego diz: A gente vai falar agora do Estatuto do Desarmamento, que ainda no primeiro ano do primeiro mandato do Lula, uma proposta apresentada pelo Senador pelo MDB (na época PMDB) do Espírito Santo, Gerson Camata, foi aprovada em plenário e sancionada logo em seguida pelo presidente, no dia 23 de Dezembro de 2003. Essa lei, conhecida como o Estatuto de Desarmamento, colocava sérias restrições à posse e comercialização de armas de fogo. E nunca é demais reforçar a diferença entre posse e porte de arma. Posse é quando você é dono de uma arma e mantém ela em um local fixo, como sua casa, sítio ou escritório. Porte é quando você carrega a arma consigo (no bolso, num coldre, na mão, na mochila). O Estatuto do Desarmamento de 2003 colocava sérias restrições nesses quesitos, sendo que só poderia ter uma arma quem comprovasse a necessidade disso perante o órgão responsável, que poderia ser a Polícia Federal ou o Exército, dependendo aqui do tipo da arma. Além disso havia outras exigências e a pessoa perderia o direito a esta arma se fosse encontrada armada e sob a influência de álcool, drogas e medicamentos psicoativos.

Muita gente diz que houve um plebiscito sobre o desarmamento e que o “não” venceu e mesmo assim a lei passou. Só que aqui existe um erro. Essa lei é de 2003 e o plebiscito só aconteceu em 2005 e ele apenas perguntava se a população concordava com um artigo específico, o 35, que proibia totalmente o comércio e a posse de arma. O que, de fato, não é que acontece. A posse não é proibida em sua totalidade, mas existe um processo que torna a aquisição de uma arma legal um pouquinho mais complicado.

Mais à frente a gente vai detalhar isso de novo, mas, resumidamente, muitos estudos mostram indícios que o Estatuto do Desarmamento foi positivo. Desde que dados de violência por arma de fogo começaram a ser catalogados, em 1995, houve um aumento de mortes violentas ano após ano, dentro de uma pequena margem, só que a partir de 2004 houve queda na maioria dos anos, com alguma variação para cima dentro de uma pequena margem, mas de todo modo mostrando uma boa tendência de queda. Não estamos aqui dizendo aqui que essa correlação é exatamente a causa, mas existe uma forte evidência nesse sentido.

Igor diz: Em 2019, houve outras mudanças com relação ao estatuto do Desarmamento, foi permitido que moradores do campo possam andar com suas armas em toda a extensão da sua propriedade, sendo que anteriormente era permitido apenas que a arma ficasse na sede da propriedade.

Outra modificação, foi a redução para a compra de armas, que passou de 25 anos para 21 anos a idade mínima. Além disso o registro que era feito por unidade, passou a contemplar 4 armas e a sua renovação passou de 5 para 10 anos. E agora adolescentes de 14 a 18 anos poderão agora fazer aulas de tiro com a autorização do responsável.

Vale aqui só um comentário final sobre o estatuto do desarmamento, mas ele não provocou de fato o desarmamento da população; ele só restringiu compra e posse de armas, que é um debate que acontece não apenas no Brasil, mas é um debate extremamente forte também aqui nos Estados Unidos, principalmente porque é um dos principais palcos desses grandes e midiáticos massacres, esses assassinatos em massa.

Patrícia diz: eu estive em um congresso em Belém do Pará e Belém é uma das cidades mais violentas do país e existe ali uma normalização muito grande não só da posse de armas, mas da licença pra matar da polícia. A gente conversou com muita gente local e existe um consenso assim muito grande e até “uma coisa boa” da força nacional estar lá, “é bom porque eles não perguntam, eles atiram”. Imaginam se a gente tem um estatuto mais flexível, que já foi flexibilizado em 2019. E isso está tão normalizado, principalmente nos locais mais violentos.

Diego diz: O que você disse agora é interessante. Em 2014/2015, eu tive uma proposta pra jogar basquete na África do Sul. Eu acabei não indo por uma questão se seguro. Porque pra jogar lá eu tinha que fazer um seguro que se eu fosse sozinho o clube que eu ia jogar ia pagar, mas como eu queria ir com a minha esposa e o meu filho, eu tinha que pagar os três e pra pagar o seguro, principalmente do adolescente, ia custar 5 vezes o que eu ia receber por mês. Eu acabei não indo. Eu estava quase indo e só pagando o meu seguro e deixando eles sem, porque eles não iam estar em nenhuma situação de risco, estava tudo certo, mas eles falaram que no lugar que eu ia morar lá as pessoas andavam na rua armadas, porque lá tem bastante chinês, tem bastante indiano, grande parte da África passa por ali e isso que me fez não ir. E agora parte disso está acontecendo por aqui.

Igor diz: É um debate extremamente complexo, né? Mas essa normalização da presença da arma, essa normalização da morte acaba gerando até uma menor empatia da população e isso apenas reforça uma força de opressão contra a própria população. Que essa mesma força policial (e aqui o policial não é o vilão; o vilão é o sistema em si, o policial é tão corvo quanto todo outro, é tão oprimido quanto todos os outros e tal). Mas essa mesma força policial que ela é utilizada para supostamente matar ali um bandido sem julgamento justo, etc, ela também pode ser usada contra um professor que está em greve exigindo condições decentes de trabalho, como a gente vê acontecendo no Brasil, o uso de cavalaria em greves… Enfim, quando você normaliza esse uso abusivo da força ele mais cedo ou mais tarde (e é mais cedo quanto mais vulnerável você for) volta-se contra você. Então, chega um momento em que a gente tem que ter cuidado quando a gente dá força a esse tipo de discurso.

Patrícia diz: tema tenso, vamos continuar. Os lugares do lado da universidade têm muitas favelas. Então a gente sempre passava pra ir lá pra Federal do Pará.  E é onde tinha mais força policial. E do que que adianta a força nacional estar lá, a polícia tinha armas que eu nunca tinha visto. Tinha umas armas assim com uns negócios enormes na mão da polícia. Para mim tipo eu fiquei em choque. E você olhava os lugares sem saneamento básico, sem asfalto, sem nada. A gente fala aqui em São Carlos, em Ribeirão, tem favelas, mas elas ficam escondidas em algum ponto e ainda elas têm um pouco de estrutura comparado a lá. Lá o nível de desigualdade é extremo. Chega a ser chocante. É muito triste, sabe? E existe aquela coisa, onde está a polícia onde está a força nacional. E as pessoas morrem e elas são efeitos colaterais ou elas são bandidos, moram na favela. Só esse comentário, vamos voltar.

Igor diz: Pois é, vamos lá.

Massacres, Suicídios e Acidentes

Patrícia diz: Em um cenário mais abrangente, apenas países já violentos veem alguma mudança significativa nos números da violência com a mudança na legislação de armas. Só que existem algumas estatísticas que mudam mesmo em países classificados como seguros. E elas são principalmente três: números de assassinatos em massa, suicídios e mortes por acidentes domésticos. Vamos então usar dados divulgados pelo CDC, que é o órgão americano responsável por controle de doenças e epidemiologia, e falar um pouco disso. 

Nos Estados Unidos, morreram em média 2.000 crianças por ano devido a acidentes com disparo de armas. Além disso, em média por ano mais de 10.000 sofrem ferimentos, alguns que levam a sequelas para o resto da vida. Disparo de armas de fogo são a segunda maior causa de morte em crianças no geral e a primeira em crianças negras. E ainda falando sobre o viés racial, nos Estados Unidos, crianças negras têm 10 vezes mais chance de morrerem por arma de fogo que crianças brancas. Já entre mulheres, casas com a presença de armas possuem o dobro de casos de violência doméstica do que casas sem armas. Claro, que não é a arma que torna a pessoa violenta, mas pessoas violentas normalmente gostam de ter armas. Ainda nesse tema, mulheres que sofrem violência de seus parceiros têm 5 vezes mais chance de serem mortas se o parceiro possui uma arma.

Igor diz: Ainda continuando nessas estatísticas, pessoas com acesso a armas possuem o dobro de risco de morrerem por homicídio e o triplo de chance de cometerem suicídio. E aproveitando que a gente está gravando esse episódio no mês de prevenção ao suicídio é importante a gente falar desse tema. E mesmo se você levar em consideração, fizer os ajustes necessários estatísticos e levar em consideração as diferenças de renda, fatores como doença mental, taxa de desemprego, etc., os estados dos Estados Unidos com melhor controle sobre armas e melhor checagem de  antecedentes possuem taxas consideravelmente menores de mortes por suicídio e de número de massacres, que são tão divulgados hoje pela mídia. Agora a gente vai passar dados aqui que são extremamente alarmantes. Olha só, ouvinte! Em média acontecem nos Estados Unidos mais de 20.000 mortes por suicídio com armas de fogo por ano. 20 mil mortes por suicídio por armas de fogo por ano.

Já sobre assassinatos em massa, desde aquele caso que ficou muito famoso de Sandy Hooks, inclusive depois dele o Obama mudou algumas leis em relação ao acesso a armas. Lembrando que esse ataque ao Sandy Hooks ele aconteceu em 2012, e nele morreram 28 pessoas. Enfim, desde esse evento em Sandy Hooks aconteceram 2000 casos de assassinatos em massa nos Estados Unidos. Dois mil casos de 2012 até hoje, que estamos gravando em 2019. O de Las Vegas, que aconteceu em 2017, continua sendo o que mais teve vítimas fatais, 58 pessoas em poucos segundos e em segundo lugar está aquele massacre que aconteceu naquele bar LGBT em Orlando e morreram 49 pessoas. E aqui quando a gente está falando de assassinato em massa, a gente está considerando os parâmetros que são adotados pelo FBI. O FBI classifica assassinatos em massa quando morrem 4 ou mais pessoas pela ação de um assassino ou um grupo coordenado/organizado de assassinos. Tem escolas que, por exemplo, entram duas pessoas e matam, então isso também é considerado um assassinato em massa, mesmo que o assassino não seja apenas um, porque eles entraram com uma ação coordenada. Então, baseado nesse parâmetro, esses dados quando a gente estava pesquisando, e essa pauta foram algumas semanas para a gente preparar, esse foi um dos dados que mais me deixaram assim alarmado. Seguindo esse parâmetro, em média acontece um massacre por dia nos Estados Unidos. Ou seja, em média todo dia tem um. Claro que a gente não vê isso todo dia na mídia porque acaba indo pra mídia ou em escolas ou aqueles com um número de vítimas maior ou quando você tem jovens atiradores envolvidos. E estados com maior acesso a armas possuem um número muito maior desses eventos. É tanto que o campeão de número de vítimas, por exemplo, é um evento que aconteceu no estado de Nevada e Flórida é o outro caso, Texas, são sempre aqueles que lideram as estatísticas de Estados com acesso mais fácil a armas. Além disso, o número de massacres desse tipo ele causa um efeito colateral terrível na população, que é um efeito de terror nas crianças. Existe uma pesquisa recente que mostrou que 60% dos adolescentes têm medo de morrerem dentro de sua escola devido a ação de um atirador. A minha filha mais velha ela tem 12 anos, até o ano passado ela estava morando aqui comigo nos Estados Unidos e ela teve treinamento, essas coisas assim, na escola, uma coisa absurda. E eu já comentei isso em episódios anteriores, antes de morar em Boston, eu morava em Los Angeles porque eu trabalhava na USC, a universidade do Sul da Califórnia. E lá quando você entra, quando você começa a trabalhar lá, pelo menos eu que fiquei mais tempo, eu fiquei 2 anos e meio, você tem que passar por um processo de RH, alguns treinamentos específicos, você tem que treinar no sistema, e tem um treinamento que a gente tem que passar lá que é um treinamento mais teórico do que prático, mas é um treinamento que você passa de como você tem que se comportar no caso de ter um atirador no Campus. Porque já tinha tido casos de atirador em Campus. Inclusive até depois que eu já estava aqui em Boston aconteceu numa festa de Halloween lá também um caso de atirador em Campus. E é uma coisa estranha, porque é uma coisa que nunca passou pela minha cabeça, esse tipo de risco, né? E aí, quando você tem que passar por um treinamento e você tem que aprender que tipo de atitude você tem que tomar etc. E você escuta casos de alguns podcasts que eu escuto em inglês, o pessoal conta casos de crianças com 8, 9 anos de idade passando por esse tipo de treinamento. É assustador. Então, esse efeito de terror ele é muito nocivo. É claro que não tão nocivo quanto a perda da vida em si, mas também muito nocivo pra cabeça dessas crianças.  

Diego diz: Em alguns lugares já é ruim o bastante ter que ensinar pra elas como é que foge de terremoto, de enchente e de tsunami, mas imagina ter que ensinar como a gente lida com alguém que entra atirando. E a violência pelas armas não causa somente a perda de vidas, ela também causa prejuízos financeiros. Pesquisadores estimam que a violência por armas causa um prejuízo de, pelo menos 229 bilhões de dólares a cada ano, sendo que destes, 8,6 bilhões são apenas por despesas diretas. Eu conheço uma meia dúzia de pessoas que tiveram a sorte de tomar uma bala achada, elas se recusam a chamar isso de bala perdida, desculpem o humor negro. O que a sociedade perde quando uma pessoa produtiva, quanto ao que se gasta com ela em hospital, em tratamento, em fisioterapia, em tudo que poderia ser aplicado em prevenção, em alguma coisa realmente bacana e a gente tem que lidar com isso dessa forma. Patrícia diz: Com certeza. E o próprio dano psicológico. É só olhar essas crianças. Essas crianças mesmo não tendo acontecido nada diretamente com elas, existe um dano psicológico por conta de uma sociedade violenta. No caso do acesso a arma e que tende a adolescentes entrarem na escola. O que essas crianças carregam consigo. É complicado.

Como Resolver o Problema

Patrícia diz: Então, caro ouvinte, a gente falou aqui das diferentes estatísticas envolvendo controle e uso de arma com violência; se somos uma sociedade violenta, o aumento de armas tende a agravar este problema.

Diego diz: Então por que alguns lugares ainda insistem em ter leis tão permissivas em relação às armas? Por que existe um total fetiche em relação a isso? Claro que existe o argumento de que armas não matam pessoas, assim como carros não atropelam pessoas, assim como liquidificador, segundo o nosso ministro, não dão choque em ninguém, mas pessoas matam pessoas, mas tente entrar numa escola e assassinar 20, 30 pessoas portando apenas um liquidificador ou uma faca. Se bem que com uma faca é mais fácil

Igor diz: Você não consegue matar 20 ou 30.

Patrícia diz: Você é parado antes, né?

Igor diz: Desculpa interromper, um parênteses. Um dos casos de massacre que teve esse ano nos Estados Unidos, a polícia conseguiu imobilizar o atirador, se não me engano, eu não posso dizer exatamente, mas a polícia conseguiu imobilizar o atirador em menos de 30 segundos. E mesmo assim ele conseguiu matar mais de 10 pessoas. A mesma eficiência se conseguisse parar esse atirador em 30 segundos, se ele estivesse portando outro tipo de arma ele não teria provavelmente matado ninguém ou uma pessoa, o número de vítimas seria muito menor. Então é isso que a gente está falando aqui.

Diego diz: Um dos centros deste debate é que, mais uma vez, o país onde mais se fabrica e se comercializa armas: os Estados Unidos. E aqui um argumento bem forte é o que o direito de se ter armas está garantido pela segunda emenda constitucional (the right to bear arms). Isso é verdade, mas pense que as 10 primeiras emendas constitucionais americanas foram assinadas em 1791, ou seja, mais de 200 anos atrás, e que nessa época as armas precisavam ser recarregadas após cada tiro. Ou seja, dava um tiro, colocava pólvora, colocava bolinha, colocava lá o que tinha que apertar, puxava a alavanca e atirava de novo. Eles não imaginavam que você teria rifle e metralhadora onde em poucos segundos você poderia matar dezenas de pessoas. Além disso, o que os ativistas nessa área propõem não é o completo banimento das armas, mas um maior controle na venda e o banimento apenas de armas pesadas que deveriam ser de uso exclusivo das forças armadas. Rifles de assalto e metralhadoras não são usadas para defesa pessoal e nem para caça, a única razão da sua existência é o ataque em massa, que é isso o que acontece hoje em dia.

Mudar a constituição americana é bem complicado, além do projeto ter que passar nas duas casas do Congresso, ele precisa ainda ser ratificado pelas câmaras de dois terços dos estados. Só que medidas de controle não precisam alterar a constituição e a gente já falou que estados que fizeram isso tiveram resultados bem positivos. 

E mudar isso, seja nos Estados Unidos, seja no Brasil, seja em qualquer lugar envolve reduzir a influência do lobby da indústria armamentícia, que banca a campanha de vários políticos e, por isso, se torna quase imbatível. No entanto, um maior envolvimento das pessoas cobrando seus governantes, dia a dia, pode fazer efeito e salvar vidas. Sabe aquele e-mail que você manda pra pessoa que você votou? Você cobra ele que eventualmente isso vai dar certo.

Só que não é só isso, a gente precisa debater algumas questões profundas na nossa sociedade. E não, videogame não é causa de violência, nem filmes, nem Pokemon, nem nada disso. Se você analisar os dados dos últimos ataques em massa nos Estados Unidos, e vamos colocar o arquivo CSV com esses dados para download no post do episódio, você vai perceber que a esmagadora maioria dos assassinos são homens e brancos. Então é preciso sim debater um outro assunto que merece um podcast próprio pra ele que é a masculinidade tóxica.

Patrícia diz: Entendendo gênero como uma construção social, que tem por objetivo organizar e segregar subjetividades em um contexto binário, heteronormativo e patriarcal. Ou seja, se você nasce com pênis, você é um menino, e vamos oferecer a você tarefas como: brinquedos de menino, ferramentas, EPIs, vamos oferecer também aproximação com questões lógicas, força, entre outras coisas, para que futuramente seja um homem importante. Se você nasce com vagina as atribuições são as que a gente já discutiu por aqui, de pertencer ao lar e se doar para a família, brincar de boneca, então os brinquedos são boneca, casinha, enfim fica tudo limitado a isso. A gente não ganha ferramentas, né? A gente ganha panelas e organizar emocionalmente a sociedade fora da esfera pública. Cuide do seu lar, não vá para a esfera pública.

Igor diz: A minha filha, principalmente a caçula, que eu ainda tenho algum tipo de influência nas coisas que ela gosta de brincar, ela tem carrinho, tem lego, tem todas essas coisas e tal, quero, sim, que ela tenha uma vida forte na esfera pública e eu tenho um plano de que, como ela tem dupla cidadania, ela seja presidente do Brasil e dos Estados Unidos ao mesmo tempo. 

(risos)

Vai ser uma espécie de uma grande URSAL, só que não da América Latina. Vamos ver só. Aguardem alguns anos. Ela só tem 4 anos, mas estamos no caminho.

Patrícia diz: estamos trabalhando, né?

(risos)

Diego diz: olha, já teve algum comentário no e-mail ou no post perguntando se o podcast era comunista?

Igor diz: Não, não.

Diego diz: Agora vai ter.

(risos)

Igor diz: A gente tem ouvintes muito bons. Mas desculpa interromper, pode seguir, Paty.

Patrícia diz: Não, que é isso. E só um outro comentário. Eu quando muito pequena eu fui traumatizada por conta de filmes relacionados a bonecos assassinos, eu peguei trauma de boneca. Então, com 6, 7 anos, eu fiz a minha mãe dar todas as minhas bonecas e até hoje ei tenho trauma, eu não gosto, pra mim boneca é um brinquedo que não dá pra confiar, ele pode ser possuído por um demônio e te atacar durante a noite e a minha mãe ela tinha que se virar para, enfim, comprar brinquedos pra mim que não fossem bonecas. Então eu tive muito brinquedo diferente, não muito estereotipado. E por eu ter irmãos trigêmeos meninos mais novos, então na minha casa tinha muito brinquedo de menino. Então, eu acabava brincando com os brinquedos deles. Então o que eu mais gostava era brincar com os bonequinhos do Dragon Ball. Então eu acabei saindo um pouco, por conta de um trauma (risos), e por ter uma família com muitos meninos em casa, eu acabei não tendo tanto contato com brinquedos só de menina. Mas aí foi um caso bem a parte, né? Pensando que eu sou da década de 90, quando a maioria das meninas… enfim… eu não era a mocinha vista pela minha família, eu era a moleca.

Esses “pacotes” que recebemos ao nascer são as normas, os papéis de gênero que a sociedade espera que a gente reproduza durante nossas vidas. Nesse sentido, temos uma masculinidade almejada que é ditada por questões eurocentradas, padronizadas. Um homem negro vai passar por expectativas diferentes da sociedade, ser empurrado a se organizar para também um modelo de masculinidade ditado pela lógica patriarcal branca. Um homem gay vai passar por esses aspectos. Um homem com um porte físico que se distancie destas normas também. Tudo isso gera um desconforto, que quando atravessados pela urgência de performance de violência e poder exigidos pela sociedade, podem ser prejudiciais. 

Nessa lógica de masculinidade, os homens não são possibilitados de desenvolver a autopercepção, vivência de suas emoções e afetos, gerando uma dificuldade ainda maior de lidar com tais demandas. Geralmente a possibilidade que se levanta nas discussões atualmente, seria a noção de MASCULINIDADES, no plural, considerando que o fim do patriarcado e destas questões de performance de gênero serem ainda utópicas. Logo, neste contexto onde há várias masculinidades, existem nuances onde pessoas que se identificam com tal gênero podem se perceber como sujeitos possíveis. Esse é um assunto que ele é emergencial e que ele deve não só ser discutido pelos homens, mas na sociedade no geral. A gente ainda vê um reforço principalmente nas crianças, principalmente nos meninos, de que menino não pode chorar, menino não pode se expressar, menino tem que impor respeito. Menino, assim, se você briga na escola, você tem que ir pra cima. Como assim você não foi pra cima? Você está chorando? Como assim você está chorando. Não só os homens reproduzem isso, mas a sociedade no geral e começa desde pequeno como dito anteriormente. Fiquem à vontade para acrescentar.

Igor diz: É, e que fique claro que essa questão que a gente está debatendo sobre a masculinidade tóxica. O que tem a ver? Enfim, a gente debateu que a questão do fetiche em relação a matar está muito relacionado a uma questão de um fetiche do homem forte caçador que vai na selva e tal, enfim. Eu já li as pessoas argumentando que isso é uma coisa natural, que é instintivo da nossa espécie, mas eu acho esse argumento um pouco assim bonzinho, esse argumento bem falacioso.

Diego diz: Fala do português correto. Você acha esse argumento babaca.

Igor diz: É falacioso, é babaca, esse argumento, porque a gente não vive mais dentro de uma caverna. A gente tem smartphone, a gente usa internet, a gente anda com roupas, a gente usa transporte público, avião, a gente não sai pra caçar, a gente vai num supermercado, ou restaurante, lanchonete, pede as coisas pela internet ou pelo telefone, enfim. A gente não vive mais numa floresta, então por que nessa questão básica da sociedade a gente tem que viver como se a gente estivesse dentro de uma caverna. Então, eu acho um argumento completamente complicado e é bom pro homem esse debate também. Isso liberta o próprio homem porque esse modelo arcaico ele é prejudicial para a sociedade como um todo. Porque às vezes você não está a fim de executar esse papel que é esperado. Mas, felizmente, eu particularmente eu tenho andado meio dúbio, porque eu sou ao mesmo tempo muito otimista e muito pessimista, eu tenho muito otimismo em relação a essa nova geração, que não está considerando esse tipo de debate tabu, que estão colocando esse debate na mesa e tal. Então a esperança é de que nas próximas gerações a gente consiga evoluir mais nessa questão.

Diego diz: Em relação a masculinidade tóxica em relação a armas, é claro que isso é a minha opinião sobre isso.  A maior parte das pessoas que eu vejo defendendo o direito delas de ter armas é muito mais pelo fato de que elas podem adquirir essa arma, porque não é uma coisa barata, e isso é uma coisa que a gente não falou. O valor de uma arma de fogo ele é razoavelmente alto para a realidade do país, em detrimento das pessoas que não podem comprar e assim elas se colocam num degrau acima em qualquer tipo de hierarquia que elas imaginam na cabeça delas, estando assim superior por ter uma arma. Não tanto por se sentirem inseguras ou por morarem em um lugar de risco ou porque a função que elas exercem profissionalmente exige uma arma, mas mais pelo fato delas poderem comprar uma. Elas terem o recurso financeiro para tal.

Igor diz: Mais uma ostentação.

Diego diz: Por aí. Eu posso estar errado, é a minha amostra.

Igor diz: Sim, sim. Pois é, interessante. E a gente também quer ouvir a opinião dos nossos ouvintes sobre isso e sobre tudo mais que a gente debateu.

O episódio ainda não chegou ao fim não, mas é isso que a gente queria discutir com você. Como a gente viu hoje aqui, na minha ousadia, se eu puder resumir um pouco do que a gente viu aqui, basicamente locais que já são considerados seguros se você reduzir a quantidade de armas isso não vai trazer mais segurança, porque esses locais já são seguros. Mas existe uma grande quantidade de estudos acadêmicos a respeito disso, estudos sérios, e a maioria deles diz que em nenhum lugar, seja ele seguro ou inseguro, aumentar armas reduz a violência. Em nenhum lugar. Isso não existe. Então aumentar armas não vai tornar você mais seguro, independentemente de onde você more. Você pode morar na Suíça ou no Brasil, não vai fazer diferença. Você estando armado dentro de casa, você tendo uma arma dentro de casa, você se torna inclusive um alvo muito mais interessante pro bandido, que em vez de ir à fronteira ou em algum comerciante ilegal obter uma arma, ele pode simplesmente pegar na sua casa. Ele tem o fator surpresa como vantagem. Mas as pessoas falam assim “ah, mas se o bandido ele tiver na dúvida se você tem arma em casa ele não vai entrar”. Não muito pelo contrário, ele vai entrar atirando, pra você não ter a chance de reação. Inclusive vai ser muito mais interessante porque além de dinheiro, jóias, etc., ele pode ainda conseguir uma arma. Então, você tendo uma arma em casa você coloca não só você como a sua família em risco sem benefício nenhum. Obviamente aqui eu estou excluindo pessoas que tem necessidade de fato de terem uma arma em casa, como policial, obviamente a gente está excluindo isso. Estamos falando do cidadão e da cidadã comum. Outra coisa que eu particularmente acho muito grave é que quando o Estado ou quando o Governo diz que a população deveria se armar porque o país está violento ou porque a cidade está muito violenta e assim a pessoa vai se sentir segura, além disso ser uma grande mentira, como a gente viu, o que o Governo está querendo te dizer é o seguinte: “olha, eu lavei minhas mãos, eu não vou fazer absolutamente nada do meu dever que é te proteger, eu não vou fazer nada daquilo que eu prometi que é trazer segurança pra você, você se vira, você está sozinho, você se vira aí e compra uma arma”. Então eu acho que não é pra isso que os governantes foram eleitos. Enfim, a gente tem que cobrar que eles de fato façam aquilo pelo qual a gente votou neles. Permitir que a gente tenha uma vida com segurança e prosperidade. Como eu falei, o episódio não acabou, mas essa é uma reflexão que eu acho que é importante.

Quadro Desvio Padrão

Patrícia diz: É isso então, gente. Assunto pesado. Nossa! Vamos agora ao nosso famoso quadro Desvio Padrão. Para quem ainda não sabe, este quadro é um prêmio dado a cada episódio para algum dado que foi divulgado ou interpretado de forma errada, ou distorcido ou onde a parte científica foi ignorada e isso gera ou um exagero do que está sendo mostrado ou mesmo mostra algo que é completamente mentiroso.

Diego diz: E neste episódio, o Troféu Desvio Padrão vai para o Ministro da Segurança Pública, Sérgio Moro (e aqui um desejo pessoal é de que quando esse episódio for para o ar ele não seja mais ministro), que em uma entrevista no começo deste ano para a GloboNews, ao defender o decreto do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizava o porte de armas, fez algumas afirmações falsas, pra dizer o mínimo. Pra resumir, já que o episódio está bem longo, a afirmação mais grave de todas as coisas ruins que ele disse foi que desde o estatuto de desarmamento, o número de homicídios no Brasil bate recordes a cada ano. Só que esta informação é falsa.

Antes de mais nada, vamos relembrar algo que a gente sempre fala e que explicamos melhor no episódio 3: o fato de duas informações estarem correlacionadas não significa que uma é a causa da outra. A causa de violência depende de vários fatores como a gente viu aqui neste episódio. Mesmo assim, a gente vê indícios fortes e que merecem alguma consideração.

O Estatuto do Desarmamento, como a gente já falou também, foi implantado nos últimos dias de 2003, ou seja, ele de fato começou a entrar em vigor em 2004. No ano de 2003 nós tivemos mais de 39.325 homicídios no Brasil. No ano seguinte, foram 37,116 e em 2005 esse número caiu ainda mais, chegando a 36,060 e em 34,648 em 2006. O risco de morte por armas de fogo era de 22 por 100 mil habitantes e caiu para 18 para cada 100 mil habitantes. Será que essa já não era uma tendência então? Não, não era. De 1995, que é quando esses dados começaram a ser coletados, a 2003, houve um aumento consistente de 21,4%. Os estados onde mais houve redução do número de armas de fogo foram os que mais reduziram os números de homicídio e onde os homicídios subiram foram aqueles com a menor adesão ao desarmamento. Neste caso, são eles Pará, Maranhão e Bahia.

Igor diz: O Pará, inclusive, que a Patrícia comentou, que ela estava no congresso. Então, por essa informação errada que leva a população a uma falsa impressão de que estará mais segura à medida em que estiver mais armada, é que temos a honra de dar o prêmio ao nosso ministro Sérgio Moro e ele pode ficar à vontade para vir nas sedes mundiais do Intervalo de Confiança receber o troféu e inclusive, obviamente,o convite se estende também à sua conje.

(risos)

Patrícia diz: Então, pessoal, não se esqueça de que você também pode enviar sua sugestão para o quadro Desvio Padrão através das nossas redes sociais ou do e-mail contato@intervalodeconfianca.com.br. Se sua sugestão for escolhida, nós citaremos o seu nome no episódio.

Quadro Espaço Amostral

Patrícia diz: E chegamos ao final do episódio. Só que antes de encerrar, nós entramos agora no quadro ESPAÇO AMOSTRAL, onde cada um indica alguma coisa bacana que esteja vendo, lendo ou jogando. Vamos começar então com o nosso calouro. Diego, o que você indica para nossos ouvintes?

Diego diz: Primeiro, obrigado pela oportunidade, obrigado pela recepção. Espero ter sido claro no que a gente disse, ainda que tenha um pouquinho de opinião, teve bastante informação bacana que a gente contribui para o debate.

A minha indicação não tem necessariamente a ver com o tópico “armas”, mas uma parte dele. A gente nunca entendeu direito o fascínio que os norte-americanos têm pelas armas. E eu tive uma leve ideia quando eu li o livro Deuses Americanos, do Neil Gaiman. E lá no contexto do livro, um Deus ele passa a ter força a partir do momento que ele é reverenciado. Quanto mais ele é referenciado, mais altares são feitos pra ele, mais gente o conhece e pede coisas, recebe coisas e tal, mais forte ele fica. E um dos deuses no contexto da história é o Deus da arma. Eu ia indicar a série, mas a série cometeu um pecado muito grande na segunda temporada, que eles substituíram a Gillian Anderson e não se pode fazer isso com a pessoa mais perfeita desse planeta.

(risos)

Igor diz: Você também acha isso?

Diego diz: Eu acho. Ela é a pessoa mais linda que eu já vi na minha vida. E substituíram por uma modelo inferior. E tiveram a capacidade no contexto da história de chamar aquilo de perfeição. Então, não serve. Não vou indicar a série. Eu vou indicar o livro. Deuses Americanos, do Neil Gaiman.

Patrícia diz: E você Igor? Qual a sua indicação?

Igor diz: Eu vou fazer duas indicações. Eu sempre dou uma roubadinha e indico mais… Enfim… Se bem que a gente nunca colocou essa regra de que tem que ser um, né? Mas eu vou indicar dois podcasts dessa vez, um em português e um em inglês. Algumas pessoas me perguntam às vezes nas redes sociais, me pedem indicação de podcast em inglês que podem ajudar a pessoa a melhorar a sua compreensão do inglês, então eu vou indicar um podcast, vou indicar inclusive uma pessoa, porque ela fez outros podcasts também muito bons. O nome da pessoa é Lillian Cunningham. Posso deixar o nome no post do episódio. A Lillian Cunningham é uma jornalista incrível. Uma incrível jornalista. Ela trabalha para o Washington Post e ela é autora de dois podcasts que tiveram uma repercussão muito grande aqui nos Estados Unidos em anos anteriores. Não são minha indicação esses dois podcasts, mas só para uma pequena introdução. Um é o Presidential, que em cada episódio, a cada semana (era um podcast semanal), ela falava de um presidente, do George Washington até o Trump. Inclusive esse podcast foi a inspiração para o podcast Presidente da Semana, que a Folha de São Paulo fez. Depois ela fez um outro podcast chamado Constitutional e a cada episódio ela abordava um aspecto diferente da constituição americana e mostrando toda a evolução de como é que as emendas da constituição foram colocadas, como é que a constituição foi feita e foi alterada durante os anos e tal. Eu achei muito interessante! Coisas absurdas que você acaba descobrindo, como, por exemplo, que teve casos em que os indígenas não conseguiram entrar com um processo para processar porque as terras deles foram tomadas pelo Estado, porque o juiz considerou que eles não eram seres humanos. E aí teve uma mudança constitucional pra considerar “olha, índios também são gente”. Coisas desse nível de absurdo assim. Então foi muito legal. E aí ela chegou nesse ano, em que a gente comemora 50 anos da chegada do homem à Lua (e desculpe a galera que é conspiracionista: sim, o homem pisou na lua; existem diversas provas disso, que você inclusive consegue verificar até hoje; é só apontar pra lua, onde tem o espelho lá, enfim…).  Mas tem 50 anos que o Louis Armstrong pisou na Lua e falou aquela frase icônica dele, e ela lançou um podcast que ainda não está finalizado, ela ainda está lançando episódios novos, que se chama Moonrise. Esse podcast Moonrise ele vai explorando todo o caminho da exploração espacial até chegar na Lua. Não só do ponto de vista americano, mas também do ponto de vista soviético. Só que é muito legal, porque ela começa lá atrás, começa tipo no século XIX ainda, aquele sonho da corrida espacial, aí ela aborda muita relação com a ficção, como é que a ficção científica tornou possível esse sonho, que se não fosse a ficção científica, se não fosse Aziemovi, Arthur C. Clarke, etc.  o nunca a gente teria chegado à Lua. Tem até o Walt Disney nessa história. Ele fala do Von Braun, Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, e da construção dos foguetes que depois foram usados pra corrida espacial, toda a questão da Guerra Fria. Fala do Sergei Korolev, que era o cérebro lá do programa espacial soviético. Enfim… Do Von Braun. Fala de todas essas questões. Fala até do Roswell, da área 51, que tem a ver com isso, de onde surgiram essas boatos e de qual era a verdade por trás disso. Enfim, vai explorando tudo isso. Sputinik e tal até chegar de fato na chegada do homem à Lua. Que não chegou nesse episódio ainda, ainda não foi publicado, mas, enfim, é muito bacana Moonrise, esse podcast da Lilian Cunningham.

E o segundo podcast que eu quero indicar é de uma pessoa que é conterrânea minha, a gente nasceu na mesma cidade, é uma das poucas pessoas da podosfera que eu conheço de fato pessoalmente, que é a Dimitra Vulcana, geralmente conhecida como Danilo Carrero, e a Dimitra tem um podcast muito bacana que se chama HQ da Vida, que não tem nada a ver com quadrinhos e ela sempre tem que ficar explicando isso, que é um podcast que começou com temáticas muito LGBTs, mas expandiu e fala também de feminismo, de estatística (porque a Dimitra é uma excelente estatística, inclusive dá aula disso). Então, é um podcast muito bacana, tem uns spin offs interessantes, convidados bacanas.  Minhas indicações são essas e eu vou parar de falar porque eu já falei demais. Podcast Moonrise e podcast HQ da Vida.

Patrícia diz: só antes de fazer a minha indicação: gente ouçam HQ da Vida. É muito bom. Aprende muita coisa. É muito bom mesmo. É um podcast que você aprende muita coisa sobre o universo LGBT, e as outras siglas que, desculpa, eu não sei falar todas. E a Dimitra é muito boa. Ela é muito boa e ela é muito didática. Então você consegue absorver muito conteúdo de uma forma supertranquila. E a minha indicação é, se você ainda não assistiu, vá assistir, o filme Infiltrados na Klan, que é um filme de 2018 do Spike Lee. É de um policial negro, nos anos 70, que ele sofre já um certo preconceito dentro da própria polícia, que é branca, e ele se infiltra na Klan. É uma história muito interessante. E vai mostrar um pouco da realidade local e o quanto a gente está voltando pra esse ciclo e o quanto isso é preocupante.

Encerramento

Então é isso, gente, chega ao final o nosso episódio dessa quinzena. Obrigada pela sua audiência e não se esqueça de ajudar a nos divulgar para todo mundo que você conhece e mande seus comentários, críticas e sugestões.

Enfim, quem quiser me seguir nas redes sociais, o meu @ no Twitter é @patbalthazar e no facebook é Patrícia Bathazar Garcia. Estou extremamente off nas redes, estou no final do meu mestrado, então a minha vida tá uma correria, mas quando eu tenho tempo, às vezes eu posto alguma coisa lá, fiquem à vontade pra vir conversar comigo, só não prometo, principalmente nesse último mês, responder no dia. Diego, fique à vontade aí para fazer o seu jabá.

Diego diz: Então, como foi falado no começo do episódio, eu faço as vitrines, usando a identidade visual do grande Rafael Chino. Esse podcast ele conseguiu duas coisas inéditas na humanidade: uma arte passar de primeira, sem nenhuma alteração e a segunda é um designer elogiar outro. Isso são duas coisas que nunca acontecem.

(risos)

Diego diz: Então, nas redes sociais eu sou no Twitter o Diego Madeira, no Instagram é o contrário, é Madeira Diego, não consegui ser rápido o bastante para pegar o meu nome na época, mas eu atualizo lá sempre, mas com fotos do meu cachorro. Pode mandar mensagem que eu respondo todas. E se precisar de artes para o seu podcast, “chama nóis”.

Igor diz: O que eu queria indicar é o trabalho do Diego. Patrícia, você tinha que ensinar os seus coelhos a escrever artigos, hein? Tinha que treinar eles pra te ajudarem aí…

Patrícia diz: Nossa! Estou precisando. Agora estou gravando aqui e tô tendo que ficar de olho porque está na hora da capirotagem deles. Pelo amor!

Igor diz: É, coelho é basicamente um gato. Eu tenho gato e é mais ou menos isso também. Obrigado, Pat e Diego, obrigado aos nossos ouvintes. E os ouvintes já sabem mais ou menos do meu jabá, essas informações todas eu sempre coloco no meu site, que é o igoralcantara.com.br. Eu coloco lá todas as minhas participações de podcasts, os meus cursos, etc. mas só em resumo, eu tenho meu curso na Udemy sobre fundamentos de ciências de dados, na linguagem python, que vai desde o comecinho, pra quem não tem nenhuma noção de python ou de ciência de dados, vai explicando todos aqueles conceitos, tem teoria e prática. E a Udemy ela tem um algoritmo lá de calcular preço, então eu não consigo falar pra vocês o preço, porque ela vai calcular dinamicamente, mas tem gente que fala “ah, eu paguei 20 reais”, tem gente que pagou até menos e tal. Então, são preços praticamente simbólicos, mas o curso foi feito com bastante tempo, bastante carinho, baseado nas aulas que eu dava nos meus workshops, nas aulas que eu dou aqui nos Estados Unidos e tal, então eu preparei tudo, ficou tudo bem bacana. Eu estou em outros podcasts também. Eu tenho um podcast novo, que eu comentei no episódio anterior, que é um podcast onde eu faço eu e a minha esposa bêbados, completamente bêbados, a gente fala sobre Lacrosse. É um podcast mensal, porque se a gente fizer com uma frequência maior a gente morre de cirrose. E normalmente sem gravar a gente já bebe um vinho, uma cerveja e tal. Mas na gravação vai vodka, vai cachaça, enfim. O nome do podcast é Raquete Frouxa. Está em todos os agregadores, Spotfy, etc. De vez em quando eu também estou ali no Mundo Freak, também no TemaCast, em outros podcasts. E agora também eu estou participando de um programa do SCI Cast que se chama Spin de Notícias, então volta e meia eu apareço lá para dar notícias e novidades relacionadas mundo de inteligência artificial. Só pra encerrar de vez, eu vou enfatizar mais uma vez: entrem no nosso site, dá uma olhada nos textos que tem lá no Blog, ajude a divulgar também. Tem textos não só meus, tem textos de outros autores e a gente está expandindo cada vez mais essa parte de textos que vai complementar também os assuntos dos episódios e de repente abordar outros assuntos que a gente ainda não fez episódio específico. Então mais uma vez obrigado, pessoal, tchau tchau.

Patrícia e Diego dizem: Tchau

(música final)

Author: Igor Alcantara

Cientista de Dados, professor e podcaster. Com mais de uma década de experiência trabalhando com dados, atualmente reside em Boston - MA com sua família e uma gata.