Por que as bruxas “voavam” em vassouras?

Por Ale Galdino e Tati do Vale

Caro leitor, acreditamos que a história das bruxas você já conhece. Toda aquela perseguição às mulheres acusadas de promover orgias, fazer pactos com demônios, comer bebês ou voar em vassouras. No entanto, apostamos que desconhece a origem desse papo de que as bruxas “voavam” em vassouras.

Para começar a explicação, vale lembrar que, naquela época, fenômenos naturais como inundações ou secas eram, frequentemente, justificados como obra do Belzebu. A maior parte das acusadas era do sexo feminino, e qualquer conhecimento sobre ervas medicinais ou alucinógenas também ia para conta de bruxas. 

Durante as inquisições, simples acusações eram consideradas provas pelos tribunais, sem muita necessidade de uma investigação. Por mais louco que pareça, as confissões seriam relevantes se fossem precedidas de torturas, caso contrário, não teriam muito respaldo. Era importante para os inquisidores, que a tortura ocorresse, pois o objetivo era interrogar, purgar e punir. 

Nesse período, muitas mulheres eram acusadas de voar em vassouras e, quando incriminadas publicamente, algumas confessavam sob tortura, outras, no entanto, se consideravam culpadas, sem que sofressem tais agressões físicas/psicológicas. Elas afirmavam que realmente voavam para os sabás (encontro de bruxas). Talvez você esteja pensando, por que confessavam sem serem torturadas. A resposta pode estar relacionada a um sentimento de culpa, pois acreditavam que realizavam tais voos. Mas como assim? Elas voam ou não?

As mulheres realmente realizavam encontros na floresta, nuas, e utilizavam as vassouras, mas a provável explicação para isso está na química e envolve alcalóides. Os alcalóides são um conjunto de compostos que apresentam átomos de nitrogênio como parte de um anel de átomos de carbono. Em pequenas quantidades podem afetar o sistema nervoso causando alucinações, efeitos e sensações agradáveis. Os alcalóides são encontrados nas plantas e utilizados em medicamentos como a morfina.

Nos rituais há relatos de mulheres que utilizavam os extratos de mandrágora, beladona e meimendro para produzir pomadas – que possuíam muitos alcalóides! As descrições indicam que as bruxas aplicavam a pomada no cabo da vassoura, feita com o uso de atropina e escopolamina, e montavam nelas. As substâncias alucinógenas eram mais facilmente absorvidas em contato direto com as membranas genitais – onde a pele é mais fina e próxima de vasos sanguíneos.

Uma conclusão interessante é que as bruxas poderiam até não voar, mas achavam que voavam! Tudo por causa das alucinações provocadas pelos alcalóides. Esses rituais – que levaram muitas mulheres para a fogueira – causaram muita balbúrdia, pareciam ter causas e efeitos sobrenaturais, no entanto, são explicados pela ciência. 

Referência

Couteur,  P.  L. Burreson, J. (2008). “Os botões de Napoleão”: as 17 moléculas que mudaram a história. Rio de Janeiro: Zahar.