Alguém fala em um elavador: “parece que vai chover”. Como uma pessoa cética, entende aquilo apenas como um pretexto para começar uma conversa, não como de fato uma constatação sobre o clima. Neste mesmo elevador, uma pessoa responde: “é verdade, eu li isso hoje na previsão do tempo”. Neste momento você passa a dar atenção a esta informação e se arrepende de não ter vindo com seu guarda-chuvas.
Por que a segunda informação foi mais importante que a primeira, mesmo com o senso comum (e errado) de que a previsão do tempo “erra sempre”? Isso aconteceu simplemente por um motivo: a segunda pessoa forneceu algo além de uma opinião, ela forneceu um dado. Neste caso, um dado sobre a previsão do tempo.
Dados importam. E muito. Sabemos disso desde a antiguidade. De longíquas dinastias chinesas até aos gregos (sempre eles) e romanos, usamos dados de modo a antecipar acontecimentos futuros e, assim, podermos nos preparar melhor para qualquer dificuldade.
Exclua este fato e não estaríamos vivos hoje. Somos talvez o primata mais lento, um dos mais fracos, nosso olfato não é dos melhores, assim como nossa visão. Somos pouco adaptados ao frio e ao calor extremo. Mesmo assim, conseguimos escalar até ao topo da cadeia alimentar. Isso se deve a alguns fatores, mas o principal é a nossa grande capacidade de adaptação. Conseguimos entender o mundo à nossa volta e antecipar acontecimentos. Melhor ainda: conseguimos mudar o ambiente à nossa volta, para o bem e para o mal.
Uma importante ferramenta que temos para executar essa tarefa são o processamento e a compreensão dos dados que nos cercam. Quando vivíamos em pequenos grupos, era fácil fazer isso de forma intuitiva. No entanto, ao construirmos sociedades com um número cada vez maior de indivíduos, precisamos desenvolver técnicas para compreender melhor esses dados.
Estatística vem do latim Status, que significa “Estado”. Ela foi concebida inicialmente como forma de coletar dados de interesse dos governos. São os chamados “Censos” que existem até hoje. Líderes que tomavam decisões baseadas nesses números ao invés de confiarem no que diziam oráculos e sacerdotes tiveram normalmente maior sucesso em suas empreitadas.
Tudo isso deu ao “Dado” um status de confiabilidade. Uma coisa é você falar “a maioria das estatísticas é inventada”. Boa parte das pessoas verá isso como uma opinião. No entanto, se você disser que “82% das estatísticas são inventadas” aos olhos dos mais ingênuos isso se torna um fato. Mesmo este tendo sido um número inventado. Sua fonte dificilmente será questionada. Assim como o exemplo da previsão do tempo que comentei no início deste texto.
A indústria do Fake News usa dessa estratégia para causar desinformação. Eles vão deturpar ou mesmo inventar dados para confundir e manipular o público. Vão dizer coisas como “está fazendo muito frio hoje, aquecimento global não existe” para justificar o aumento do desmatamento, por exemplo. O cidadão e a cidadã comuns olharão para a primeira parte dessa afirmação e pensarão “é verdade, está fazendo muito frio hoje” e assumirão a segunda parte como verdadeira. E isso está e será ainda mais usado em todas as áreas e em uma escala cada vez maior.
Deste modo, torna-se fundamental educarmos a todos sobre dados e como eles funcionam. Não estou dizendo que todos deveriam ser estatísticos ou cientistas de dados, mas que precisamos ter um conhecimento mímino sobre como eles funcionam em amostras e populações para identificarmos uma armadilha quando vermos uma.
Este é nosso dever cívico. Estudar e educar. Ainda mais em tempos onde uma sociedade que se recusa a amadurecer vê a informação correta como tendo o mesmo valor daquela inventada. Antigamente isso vinha em informações como “semente de tomates causam pedras no rim” (espalhadas apenas para aumentar a venda de latas dos extratos de tomate) ou da sua tia que dizia que ia chover por sentir o calo do pé doendo. Hoje isso pode eleger nossos líderes , trazendo graves consequências para toda a sociedade.
Dados importam. Cada vez mais. Datifique-se!