O que o Brasileiro escuta?

Uma análise dos dados sobre as 50 músicas mais tocadas no Brasil.

Compreender o gosto musical do brasileiro é também compreender seu momento cultural e emocional. Contudo, para compreender o gosto musical tupiniquim é preciso avaliar fatores chaves sobre o impacto da música sobre quem a escuta. Entre os principais fatores estão a “danceabilidade”, a valência, a energia e a presença vocal.Então, a partir dos dados da lista das 50 músicas mais tocadas no Brasil fornecidos pelo Spotify em setembro de 2019 e utilizando o pacote spotifyr elaborado por Charlie Thompson é possível ler e analisar as principais características das músicas mais populares no país.

“Danceabilidade”

O primeiro fator a ser observado quanto ao sucesso de uma música no Brasil é a sua “danceabilidade”. Fator este que descreve o quão dançável uma música é se baseando em uma combinação de elementos musicais incluindo tempo, estabilidade no ritmo, força da batida e uma regularidade geral da música. O fator “danceabilidade” varia entre 0.0 e 1.0 onde quanto mais próximo de 1 mais dançável é a música. 

A distribuição da danceabilidade entre as 50 músicas mais ouvidas mostra uma tendencia de maior concentração entre 0,5 e 0,9. Grande parte das músicas que fazem sucesso no país precisam ser dançáveis para serem populares.

Valência

A valência é um índice que mede o efeito da positividade ou negatividade da música sobre uma pessoa e que varia entre 0.0 e 1.0, onde quanto mais próximo de 1 mais “feliz” a música pode ser considerada. 

Como esperado, a grande maioria das músicas mais tocadas no Brasil são músicas consideradas felizes. Cerca de 86% das músicas mais tocadas do país possuem uma valência superior a 0.5.

A música com a menor valência encontrada foi “Kenny g” do Matuê enquanto a com a maior valência foi “Vai menina” de Pedro Sampaio, com 0,152 e 0,963 respectivamente.

Músicas com menos valência no Top 50 do Brasil
Músicas mais felizes do Top 50 Brasil

Presença Vocal

A presença vocal ou “ Speechiness” detecta a presença de palavras faladas em uma música e varia entre 0.0 e 1.0. Quanto mais palavras são faladas na música, mais próximo de 1 o índice se aproxima. Audiobooks ou podcasts são iguais ou próximos a 1 enquanto musicas instrumentais se aproximam de 0. 

Músicas com valores acima de 0.66 são quase exclusivamente composta por palavras. Valores entre 0.33 e 0.66 são compostos tanto por palavras como por música. Rappers e artistas que trabalham com maior uso de palavras também acabam incluindo entre estes valores. 

O que chama a atenção no histograma do vocabulário das músicas mais tocadas no Brasil é a sua maior concentração entre 0 e 0.3. Isso pode implicar que as músicas que mais fazem sucesso no país são compostas por poucas palavras e com uma maior importância do ritmo e “danceabilidade”.

Histograma de Vocabulário

O que os brasileiros gostam de sentir com a música?

Relacionando a energia de uma música e sua valência é possível avaliar como ela se posiciona emocionalmente. Por exemplo, músicas com valência próxima a 0 e energia próxima a 1 são musicas que provocam sentimento de raiva, enquanto músicas com valência alta e energia baixa são músicas mais tranquilas.

Os dados apontam uma preferencia entre os brasileiros por músicas mais felizes e alegre. No diagrama a seguir é possível observar uma maior concentração de músicas no espectro feliz do que em qualquer outro.

Então, que tipo de música conquista o brasileiro?

Músicas com muita valência, muita energia, muita danceabilidade e poucas palavras são as favoritas entre os brasileiros. Dançar é algo fundamental para o brasileiro, assim como o desejo de se divertir, cantar junto e sorrir ao ouvir uma música. Apesar dos cenários econômico e político desanimadores, das diversas tragédias e problemas estruturais e sociais com que o brasileiro se depara, a música continua sendo nossa principal arma contra a tristeza. A única coisa que une brasileiros conservadores, progressistas, socialistas, liberais e etc é uma boa música para dançar depois de uma longa semana.

Author: José J. Couto

José J. Couto é economista, cientista de dados e escritor de contos tristes nas horas vagas. LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/jos%C3%A9-couto-9a5303177/ Twitter: https://twitter.com/JoJorgeCouto