Variância – I – A Sabedoria das Multidões

Este é o Variância, um Spin-off do podcast Intervalo de Confiança, com periodicidade igualmente quinzenal. Este programa é mais curto e tem por objetivo trazer notícias ou curiosidades sobre algum assunto relacionado à ciência e jornalismo de dados ou sobre algum dado específico. Por ser mais curto, tanto a edição e conteúdo são mais simples e mais diretos.

Neste episódio, Igor Alcantara fala sobre como uma vaca mudou a história da estatística e ajudou a criar um conceito usado até hoje em economia, política e em diversas outras áreas.

Apresentou este episódio Igor Alcantara. A edição foi feita por Igor Alcantara e a vitrine do episódio por Diego Madeira.

As imagens usadas na Vitrine do episódio, com exceção da marca Intervalo de Confiança, foram extraídas do site pexels.com.

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Comentando no Episódio

Uma vaca no interior da Inglaterra foi o início de toda a Teoria
Livro: “A Sabedoria das Multidões”, por James Surowiecki.

Transcrição

Olá caro e cara ouvinte. Você deve estar se perguntando: ué, episódio do Intervalo de Confiança for a de hora? Seria um episódio extra? Mais ou menos. Deixa eu explicar pq eu estou aqui.

Como você sabe, nosso podcast tem a periodicidade quinzenal, mas aí a Nicolli sugeriu o seguinte: “pq que na semana sem episódios, a gente não lança um spin off que seria uma espécie de drops de informação, assim os ouvintes ficam com conteúdo toda semana?”

Daí veio a ideia deste Spinoff que demos o nome de Variância. A ideia é que em cada Variância uma pessoa da nossa equipe venha aqui trazer alguma notícia, novidade ou mesmo uma curiosidade da sua área em um episódio bem curtinho.

E como eu sou o primeiro, decidi que vou falar de um assunto que, mesmo que não seja novo, é bem interessante e já foi brevemente citado de forma indireta em alguns episódios do Intervalo de Confiança. Eu estou falando do conceito de Sabedoria das Multidões.

Tudo começou em 1907 com um artigo publicado na revista Nature por Francis Galton, o mega famoso matemático chamado de o “príncipe da matemática”. O Galton estava meses antes em uma feira agropecuária no interior da Inglaterra e nessa feira estava tendo um concurso em que as pessoas tinham que adivinhar o peso de uma vaca. Quem adivinhasse o peso exato ganharia a vaca como prêmio. Ele, como bom cientista, anotou em um caderno o palpite de cada pessoa. O peso real da vaca, que foi revelado depois, era 1.198 libras. Teve gente que chutou 5000 libras, outros falaram 200 libras, outros 2500 libras, outros 800, enfim, os chutes foram mais próximos ou mais distantes do valor real, mas ninguém chegou muito perto. Ele coletou 800 palpites e, quando calculou a média, chegou ao valor de 1.197 libras. Ou seja, a média tinha errado o valor real por apenas 1 libra.

Esse experimento já foi repetido, sem exagero, milhares de vezes com os mais diferentes tipos de dados. Um bem famoso é você colocar inúmeras bolinhas ou doces em um jarro transparente e pedir para pessoas falaram quantos tem ali. Quanto mais pessoas palpitarem, mais a média vai estar próxima do valor real. É a isso que chamamos de “A Sabedoria das Multidões”.

Em outras palavras, este é um conceito que diz que estimativas precisas podem ser obitidas combinando o julgamento de diferentes indivíduos.

Esse conceito é muito usado em administração e em economia para saber, por exemplo, a gravidade de uma recessão eminente ou se uma ideia de negócio tem uma boa perspectiva ou não.

Só que é preciso ter cuidado. As opiniões dos indivídios precisam ser diversas e a opinião de um não pode interferir na do outro. Quando isso ocorre, o resultado pode ser bem catastrófico. Um exemplo clássico são as bolhas econômicas, quando o movimento de algumas pessoas influencia outras e isso gera um efeito de manada irracional que um dia estoura. E, claro, as opiniões precisam ser diversas. Não adianta pegar várias pessoas muito parecidas, como pessoas de um mesmo grupo social ou etário.

No final, o que este conceito quer dizer é que existe um movimento natural de caminho em direção à média que a gente observa até na natureza. Se você coloca num ambiente um grupo de uma espécie animal onde você tem 90% de machos e 10% de fêmeas ou mesmo o contrário, a tendência é que no decorrer do tempo esses números vão caminhando em direção a 50%. Então, uma conclusão que podemos tirar disso tudo é que, para que quando você se informar sobre algo você obtenha uma informação que seja a mais próxima da verdade, busque diferentes fontes qie sejam de tipos bem diversos entre si. A verdade está provavelmente na intersecção daquilo tudo.

Para encerrar, a Sabedoria das Multidões é o tema e título de um livro recente escrito pelo holandês James Surowiecki.

Bom, é isso por hoje. Como recado final, peço que vocês visitem nosso site intervalodeconfianca.com.br, nos siga nas redes sociais e ajude a nos divulgar. Isso é muito importante.

Eu sou Igor Alcantara, você pode saber mais sobre mim, meus cursos e podcasts no meu site igoralcantara.com.br

Um abraço e até a próxima.

Author: Igor Alcantara

Cientista de Dados, professor e podcaster. Com mais de uma década de experiência trabalhando com dados, atualmente reside em Boston - MA com sua família e uma gata.

3 thoughts on “Variância – I – A Sabedoria das Multidões

  1. Maurício Heberle says:

    Gostei da ideia do spin-off!

    Fiquei com uma dúvida quando é citado sobre uma pessoa não poder interferir na opinião da outra. Não é justamente o que aconteceu no caso das vacas? Conforme uma pessoa ia citando seu palpite, acredito que isso influenciasse a opinião das pessoas ao seu redor, não?

    Sobre o fato da natureza “procurar” as médias, uma coisa que eu observo – e pode ser só um devaneio meu – é que muitas vezes a natureza busca um ponto médio ou ‘central’ em diversos aspectos diferentes.
    Ex: Planetas que contém seu núcleo no centro das suas formações, galáxias que giram em torno do seu centro, animais que têm seus pontos vitais no centro do corpo… enfim pode ser só bobagem minha ou percepção seletiva xD

    Ah, só um último comentário, o áudio estava um pouco baixinho nessa edição, mas nada que atrapalhasse muito. 🙂

    1. Igor Alcantara says:

      Oi Maurício, obrigado pelo seu comentário! 🙂

      No caso da vaca, as pessoas não diziam seu palpite publicamente, elas escreviam em um papel com seu nome e colocavam em uma urna. Galton baseou sua estatística nos valores escritos nesses papeis.

      Sobre sua percepção, ela está correta, mas as razões são sempre diversas. No caso de planetas de galáxias, o centro acaba sendo um ponto de concentração gravitacional baseado na Teoria da Gravitação Universal que diz que as massas se atraem pela deformação do espaço-tempo. Neste caso, o balanço das forças acaba gerando pontos de maior massa até que as forças cheguem num equilíbrio e os objetos passem a orbitar um ao outro. Está mais relacionado à física do que à estatística, mas é sim um ponto interessante.

      Existem fenômenos onde isso não acontece. Por exemplo, em uma explosão. Não há equilíbrio ou tendência à média, mas isso já é outro assunto.

      Sobre o áudio baixo, vou observar e melhorar nos próximos.

  2. Brontops says:

    Uma das hipóteses subentendidas é que as pessoas tenham alguma noção do que estão palpitando, né? Não dá pra supor que a média ia ficar próxima se fosse um bando de criancinhas ou de (sei lá) físicos nucleares ou de músicos de heavy metal.

    Gostaria de sugerir uma pauta sobre Democracia Eletrônica. Uns anos atrás, no auge do movimento político nas ruas, eu esbarrei em um verbete do Wikipedia, o Demoex (democracia experimental). A ideia é que, dado que a tecnologia atual permite, seria possível que as pessoas efetivamente legislassem, sem o intermédio dos (blé!) políticos. Como eu já li em algum artigo sobre Economia Digital, já se sabe que os agentes intermediários (como corretores de imóveis, de seguros ou os próprios políticos) tendem a agir em causa própria do que totalmente em nome de quem os contratou.

    Achei a ideia empolgante até certo ponto. Afinal, não seria a ideia do júri, dividir a sentença com um grupo de pessoas e tentar chegar a um consenso? Por outro lado… Como seria isso? Tipo uma reunião de condomínio, eterna e infinita? Além disso, opinião não é conhecimento e a verdade é que a maioria das pessoas vai mais pelo lugar-comum. Mas, no contexto geral de hoje, no qual parece que TODOS estão perdidos, talvez fizesse bem chamar as pessoas para participar de forma mais… prática do poder político.

    No artigo da Wikipedia, dizia-se que na Suécia uma vereadora de 18 anos havia sido eleita por um partido Demoex e que suas escolhas eram feitas de acordo com votações eletrônicas por membros do partido. Recentemente, fiquei sabendo que um partido italiano decide se vai se aliar com outro apenas após uma eleição interna eletrônica no site do partido.

    Não sei se existem muitos artigos sobre isso. Na verdade, acho que há bem pouca vontade de pensar a sério sobre isso. Acho que pensam em linchamentos e também no esvaziamento da figura do político. Encontrei pouca coisa naquela época e acabei desistindo quando vi a cara dos malucos que estavam brigando por isso no Brasil… rsrsrs. Mas ainda assim acho a ideia interessante, uma forma de fazer as pessoas se sentindo integrantes da democracia.

    Enfim uma sugestão. Estou sugerindo essa pauta, pois não sei se há algo na ciência de dados que se permita inferir que melhores decisões (políticas, inclusive) são realizadas a partir de uma votação… ou se é simplesmente uma forma que se consagrou para mudar o poder político e evitarmos recorrermos a derramamento de sangue. Desculpem se viajei na maionese.

    Abs

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